
Discurso de Lula preocupa empresários. Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula.
Duas fontes não identificadas do mundo empresarial afirmaram à Folha que Lula fez um bom governo ao se firmar como político com bom trânsito em todas as camadas da sociedade, mas que, agora, ele parece optar pelo enfrentamento para tentar estancar a queda de Dilma nas pesquisas.
Parece que o empresariado, aliado do ex-presidente Lula, já começa a ficar preocupado com o tom mais radical do discurso do petista nos últimos eventos em defesa da presidente Dilma Rousseff.
Lula tem criticado empresários, atacado a mídia e até defendido medidas econômicas que destoam do receituário adotado em seus dois mandatos na presidência.
Há pouco mais de duas semanas, em Belo Horizonte, Lula afirmou que foi o "péssimo humor empresarial" que derrubou o PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre.
Em recente reunião, empresários fizeram a avaliação de que o ex-presidente pode colocar em risco seu "patrimônio" político ao voltar a entoar o discurso mais radical do "nós contra eles".
O risco, afirmam, é o efeito contrário, com o PT voltando a ser um partido com elevada rejeição na classe média e empresarial. A expectativa dos executivos próximos a Lula é que, se Dilma for reeleita, ele retome um discurso mais amigável e menos radical.
Um interlocutor do presidente confirma que ele está "magoado" com empresários agraciados com benefícios nos governos petistas e que, hoje, circulam em almoços e jantares oferecidos aos principais candidatos adversários, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
"Estamos recebendo relatos de que empresários que frequentam o Palácio do Planalto estão cumprimentando o Aécio como 'meu presidente'", critica um interlocutor de Lula, reservadamente.
Do lado dos empresários, gerou preocupação a fala de Lula em evento recente em Porto Alegre, quando criticou publicamente o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, defendendo que o governo deveria liberar mais crédito e gastar mais.
Neste momento, está claro que um dos problemas do governo atual, diz um empresário, foi exatamente não segurar os gastos federais, o que pressionou a inflação.
Em tom de brincadeira, a Folha ouviu que Lula deve estar ouvindo pouco dois de seus antigos conselheiros, o ex-ministro Antonio Palocci e o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.
Ambos são defensores de um política fiscal mais austera para segurar a inflação dentro do centro da meta, hoje de 4,5% ao ano.
Auxiliares de Lula dizem que o recado do ex-presidente em Porto Alegre não teve como alvo apenas Arno Augustin, mas principalmente o Banco Central. A avaliação é que o BC teria apertado demais a política monetária e provocado uma escassez de crédito na economia.
Com isso, a retração no ritmo econômico foi muito forte exatamente no ano eleitoral, o que levará o país a ter um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2014 na casa de 1,5%, abaixo do registrado em 2013, de 2,5%.
A relação traz a lembrança da frase do ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Mário Amato. Em 1989, ele afirmou que 800 mil empresários deixariam o Brasil caso Lula vencesse as eleições