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Quinze entidades empresariais ligadas aos setores de varejo e consumo acabam de divulgar um manifesto pedindo a regulamentação das propagandas e do o aos jogos de apostas online.
Os signatários do manifesto vão desde a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) até a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL), ando pela Associação Brasileira de Strip Malls (ABMALLS), a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
O manifesto aponta que medidas precisam ser tomadas imediatamente e cita o bloqueio de cartões de crédito para apostas, além de uma tributação maior do setor.
Parte dos representantes setoriais defendem que as apostas devem ser submetidas às mesmas regras impostas à indústria do tabaco e das bebidas alcoólicas.
Pelas contas das entidades, as apostas online retiram cerca de R$ 100 bilhões do potencial de consumo da economia, o que está impedindo que as empresas associadas na ponta sintam os efeitos da recuperação da economia.
Segundo dados do Banco Central, apenas em agosto 56 empresas de apostas e jogos de azar online totalizaram R$ 20,8 bilhões em transferências recebidas por meio do Pix.
O dinheiro transferido impacta diretamente no poder de consumo, porque muitos dos apostadores não estão exatamente bem de vida.
A estimativa é de que, só em agosto, 5 milhões de pessoas pertencentes a famílias beneficiárias do Bolsa Família tenham enviado R$ 3 bilhões às empresas de apostas via Pix, com uma média de gastos de R$ 100 por pessoa.
De acordo com o estudo, cerca de 17% dos cadastrados no programa apostaram no período.
Outro fator que preocupa as entidades são os funcionários do setor, representantes também das classes C e D, que constantemente estão endividados por conta dos jogos, afetando diretamente o relacionamento entre patrão e empregado.
“As pessoas ficam endividadas, faltam ao serviço e desenvolvem problemas psicológicos que afetam as relações. Em muitos casos, isso pode afetar diretamente a qualidade do serviço. É necessário que haja uma regulamentação, tanto das propagandas quanto do o às plataformas”, relata o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci.
Em um encontro com o vice-presidente Geraldo Alckmin, esses representantes pediram, de imediato, o bloqueio do cartão de crédito para jogos, e há uma expectativa de que isso possa vir a ocorrer, pois, segundo um CEO de Bet em anonimato ao site da Globo, a Febraban, a poderosa federação dos bancos, fez o mesmo pedido.
Recentemente, as instituições privadas de ensino superior brasileiras realizaram um estudo no qual afirmam estar perdendo alunos para sites de apostas esportivas e o jogo do tigrinho.
Estas instituições acreditam que a maior concorrência não está mais entre elas, mas sim com as bets, e estimam que houve uma perda de 1,4 milhão de alunos para essas plataformas de jogos.
Envolvidos no setor afirmam que apenas a regulamentação pode frear esse impacto e também cobram do governo uma resolução imediata.
O governo havia estabelecido um prazo de transição, até o final do ano, para que as empresas se regularizem, mas o Ministério da Fazenda já se antecipou e publicou uma portaria com as empresas consideradas legais.
A partir de 2025, somente empresas registradas no Brasil poderão operar em território nacional. O cadastro de apostadores será feito por reconhecimento facial, e haverá um limite diário de apostas. No entanto, o cassino online, um dos grandes responsáveis pelo vício, continuará liberado.
Ciente dos impactos, governo e mercado mostram preocupações com o ritmo desenfreado dos estragos causados, e, juntos, correm para estancar uma ferida exposta que, em muitos dos casos, traz danos irreversíveis.