
Temer: "Calma pessoal, é só um e-mail". Foto: Agência Brasil.
O presidente Michel Temer usa, desde os seus tempos na vice-presidência, um e-mail pessoa física do Gmail para atividades institucionais.
O fato, que constitui uma brecha na política de segurança da informação no mais alto nível do governo, veio à tona em uma matéria do Globo sobre o conteúdo do iPhone do ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência Geddel Vieira Lima, apreendido pela Polícia Federal (PF) numa das operações derivadas da Lava-Jato.
Assim como outros documentos e vídeos de delatores, o e-mail de Temer e até o seu número de celular foram divulgados na Internet pela Câmara de Deputados, encarregada de analisar a segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República.
A reportagem do Globo ligou para o número de Temer e falou diretamente com ele sobre a questão do celular e do e-mail. Geddel também usava um e-mail privado, não corporativo.
Procurada pelo Globo, a Secretaria de Imprensa da Presidência afirma que o e-mail privado de Temer segue ativo, mas é pouco utilizado.
Segundo a secretaria, é a chefia de gabinete do presidente que faz uso do e-mail, ainda mantido porque a conta vem desde a Vice-Presidência e porque "o sistema do Palácio do Planalto nem sempre é o mais eficiente".
O sistema nem sempre eficiente em uso no caso é o Expresso V3, um software de correio eletrônico open source mantido pelo Serpro e implantado no Planalto em 2013, por decreto da então presidente Dilma Rousseff.
Na época, logo após a vinda a público das práticas de espionagem da NSA americana, Dilma determinou que toda a istração pública federal deveria utilizar a ferramenta.
Na Presidência, isso envolvia a migração de 4,5 mil usuários da V2 do Expresso, além de "clientes de e-mails proprietários".
A justificativa para migrar os e-mails proprietários, principalmente na nuvem, é que eles seriam facilmente ados pelo governo americano, tanto nos data centers localizadados no país como por meio de backdoors.
Muitos usuários, no entanto, não aderiram ao Expresso, dando início a uma proliferação de contas particulares indo até, como se vê agora, à vice-presidência.
A favor de Temer (bom, talvez não) é possível dizer que ele parece não saber muito bem a diferença entre uma conta de Gmail e qualquer outra conta de e-mail, pelo que transparece da transcrição do diálogo com o repórter do Globo:
“— O senhor usa essa conta ainda?
— Conta?
— É, uma conta particular no gmail.
— Não, conta não. Eu tenho o gmail. Gmail, não, como é que se chama isso? E-mail.
— Ele enviou para (...)@gmail.com?
— É possível. É possível.
— O senhor usa essa conta?
— Eu não uso. Normalmente vem para minha secretária. Agora, acho que é isso mesmo. Meu e-mail é esse. Deve ser exatamente esse. VPR, do tempo da vice”.
Seja como for, o Expresso V3 está com os dias contados. Em agosto, o Serpro anunciou que estava abandonando o desenvolvimento da ferramenta depois de uma década para lançar o Serpro Mail, baseado em outra plataforma open source, o Zimbra.
Um dos motivos para a mudança pode ser a queda livre do Expresso, que chegou a ter 500 mil contas, mas, na última divulgação oficial, no início de 2016, tinha só 56 mil contas ativas no governo federal.
A Zimbra não é nenhuma gigante. O primeiro software da empresa foi lançada em 2005 (contemporâneo do Expresso, por tanto).
Mas é uma solução com desenvolvimento internacional que se tornou um standard open source no seu segmento.