
Pessoas estão pensando duas vezes antes de frequentar grandes aglomerações. Foto: https://www.flickr.com/photos/janitors/
A organização do Mobile World Congress comunicou nesta quarta-feira, 12, o cancelamento do evento, previsto para acontecer em Barcelona entre 24 e 27 de fevereiro, devido à epidemia do coronavírus.
Com uma estimativa de 100 mil visitante para este ano, o MWC é o maior evento do setor mobilidade do mundo.
A decisão de não realizar o evento veio depois de uma série de grandes patrocinadores decidirem cancelar as suas participações, com medo de expor os funcionários ao contágio do coronavírus.
Quem começou a tendência foi LG, na semana ada. Nos últimos dias, a decisão foi seguida por players importantes no mercado de telecom como Vivo, NTT Docomo, Nokia, BT, grandes fornecedores como Cisco, Ericsson e Intel, além de gigantes como Facebook e Amazon.
Os cancelamentos, todos justificados em nome da segurança das equipes, acabaram gerando uma dinâmica própria: a partir de certo ponto, quem não cancelasse sua participação poderia ser percebido como pouco interessado na saúde dos seus funcionários.
A grande presença de chineses no evento pode ser uma das chaves para entender a preocupação: de acordo com quem estima, ela pode ir de 5% a 30% do total de participantes no MWC.
Talvez não por coincidência, as empresas chinesas foram as mais relutantes em cancelar suas participações.
Algumas, como Xiaomi e ZTE, optaram por reduzir eventos como conferências para a imprensa. A Huawei, por outro lado, ainda estava fazendo grandes esforços para levar seus profissionais para Barcelona.
O evento é um momento chave para a Huawei, em meio à disputa pelos contratos do 5G, com o governo americano pedindo boicote da tecnologia da empresa.
A China é o principal foco da epidemia, com cerca de 40 mil infectados, dos quais cerca de 900 morreram. Os números já são piores do que os do Sars, uma doença similar surgida em 2002, e não há indícios de que a situação esteja melhorando.
A GSMA, organização mundial de telecomunicações responsável pelo Mobile World Congress, por sua parte, tentou estancar a sangria anunciando medidas como a proibição de participantes vindos da província de Hubei, cuja capital Wuhan é o epicentro do coronavírus.
Participantes que vem da China precisariam provar que estiveram fora do país por 14 dias, o tempo de incubação da doença.
A GSMA também disse que iria alocar mais médicos, melhorar os planos de limpeza, controlar a temperatura na entrada e incentivar os participantes a não cumprimentar uns aos outros com apertos de mão.
Em vão. Agora a organização tem uma conta gigante em mãos. A GSMA não comentou quais são os planos de reembolso de viagens, hotéis, patrocínios e contratação de estantes no local.
O MWC atrai todo o ecossistema de telecom, indo desde a parte de infraestrutura até desenvolvimento de aplicativos, ando por tipo de badulaque para celular. Para muitos, a participação é o principal investimento em marketing do ano.
Outro grande perdedor com a decisão é a cidade de Barcelona: estimativas apontam que o evento traz uma receita de 460 milhões de euros e gere 13 mil empregos temporários na cidade.
O Mobile World Congress foi transferido para Barcelona desde 2006 e desde então dobrou seu número de participantes, embalado pela importância crescente dos celulares e da conectividade.
O evento divide atenções com o Consumer Electronics Show, em Las Vegas, que na sua última edição atraiu 180 mil visitantes.
Mas a verdade é que o mar não está para peixe quando o assunto são grandes eventos de tecnologia, em parte inclusive por tendências sociológicas e comerciais promovidas pela conectividade.
Basta ver o caso da Cebit, uma feira com 33 anos de história e no ado um dos maiores eventos do calendário de tecnologia, que fechou as portas em 2018.
Durante o final dos anos 90 e no começo dos 2000, a Cebit era um barômetro do setor de tecnologia, com 850 mil visitantes anuais no evento, realizado em Hannover.
A última edição, em julho de 2018, foi uma sombra disso, com 120 mil participantes. Grandes nomes anunciaram que não estariam presentes em 2019 e os organizadores optaram por encerrar o evento.
O Coronavírus pode ter oferecido uma desculpa para grandes empresas deixarem o evento, realocando o dinheiro nas suas próprias iniciativas, como, aliás, a Samsung já vinha fazendo, por exemplo.