
O celular da discórdia. Foto: Divulgação - Qbex.
A Qbex, uma fabricante de eletrônicos brasileira, está processando a Intel nos Estados Unidos em uma ação de US$ 100 milhões pelo que alega serem prejuízos causados por defeitos na linha de chips Atom Sofia da gigante americana.
De acordo com as alegações da Qbex, divulgadas pelo site The , a Intel deliberadamente vendeu milhares de chips com problemas de sobreaquecimento, que, em alguns casos, teriam causado queima e até explosão de aparelhos.
Descontinuada em julho de 2016 em meio a um recuo geral da Intel nesse segmento, a linha de chips Sofia da Intel incorporava um modem 3G na sua unidade de processamento, resultando em um produto de menor custo.
É uma oferta ideal para empresas como a Qbex, que colocou um smartphone no mercado com essa tecnologia no final de 2015, a um custo de R$ 599.
Na sua argumentação, os advogados da Qbex afirmam que os problemas causados pelos chips da Intel basicamente afundaram a empresa.
"A Qbex antes conhecida como uma marca de eletrônicos confiáveis e baratos no Brasil é agora conhecido como a marca de smartphones explosivos”, resume a ação judicial da empresa brasileira.
De acordo com o relato da ação, a Qbex investiu US$ 130 mil na preparação do lançamento ocupando 90% da sua capacidade de produção e fazendo 200 contratações.
Os celulares foram lançados em 2015 (com adesivos “Intel Inside” bem visíveis), e, de acordo com relato da QBEX, foram um sucesso vendendo 235 mil unidades até a sua saída do mercado, no final do ano ado.
O problema é que os produtos teriam gerado 35 mil reclamações e 4 mil processos judiciais. A empresa não abriu quantos celulares teriam pego fogo ou explodido.
Não há cobertura na imprensa brasileira para o problema, o que seria justificado como um exemplo nacional da situação enfrentada na mesma época pela Samsung.
A QBEX afirma ter tido que trocar 18 mil unidades, enquanto possui outras 13 mil em estoque, 20 mil paradas na alfândega e 13 mil em Hong Kong, onde os chips são produzidos por empresas terceiras ligadas à Intel.
O centro do argumento da QBEX é que o aquecimento dos aparelhos é provocado pelo chip, o que seria provado por um estudo da própria empresa, e que a Intel sabia que o chip tinha problemas, afirmação para a qual não apresenta maiores corroborações.
Procurada pelo , a Intel disse através de um portavoz que está avaliando o assunto, mas que “não tem evidências que o sobreaquecimento alegado pela Qbex foi causado pelo nosso produto”.
O tamanho do estrago causado pelos problemas dos celulares na Qbex também é discutível.
No texto, os advogados pintam o quadro de uma parceria sólida da Intel com o crescimento em alta.
Enquanto a primeira alegação é consistente (a Qbex foi a primeira latino americana a lançar um ultrabook com chip Intel) a segunda é bem mais vaga.
A Qbex só abriu o faturamento de 2005, quando entrou no mercado de PCs e fechou o ano com US$ 1,3 milhão e o de 2012, que foi 65 vezes maior: US$ 85 milhões.
A empresa não abriu seus resultados para 2013, 2014 e 2015, antes do lançamento do novo produto com chip Intel e já durante o desaquecimento da economia brasileira.
A crise econômica causou problemas sérios para muitas empresas do mesmo perfil da Qbex, dependentes de produtos com margem de lucro baixa orientados a um mercado de massa.
A Positivo, maior empresa brasileira do ramo e provavelmente o benchmark da Qbex, fechou 2016 com queda de 20,9% na receita líquida e prejuízo de R$ 79,9 milhões.
De qualquer forma, a Qbex deve conseguir obter um acordo com a Intel sem maiores problemas. A pedida de US$ 100 milhões é trocado no contexto da gigante americana.
Os chips problemáticos adquiridos pela Qbex foram parte de um esforço da Intel para penetrar no mercado de mobilidade.
A tacada teve um custo estimado por analistas US$ 10 bilhões em três anos e deu em nada.