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Marcelo Korn e Rogério Balassiano, CEO e CTO da Tachyonix, respectivamente (Foto: Divulgação)
Existe um assunto inadiável que, no entanto, está sendo cronicamente postergado. Faz lembrar tantos temas que são abordados quando é quase tarde demais, como foi o boom do ERP no Brasil. Quantas vezes vimos isso antes – ninguém toca em uma questão exigente para evitar ter que lidar com as demandas que poderá trazer: tomar decisões, mudar processos, transformar culturas internas.
Estou falando de um ponto muito importante que está sendo discutido no mercado apenas da forma mais subliminar, algo que surge em rodas de conversas mas não é encarado como o grande problema que na realidade é. Vamos levantar essa bola que logo será tema principal entre empresas cuja atuação envolve e depende de tecnologia – ou seja, em todas?
Processos contábeis, fiscais, de RH, enfim tudo o que ocorre nas empresas precisa de um sistema integrado de gestão. Lembrando que estamos falando do coração das corporações de todos os escopos e tamanhos na atualidade, seus dados, o norte em um universo a cada dia mais data driven.
A migração do sistema SAP para as versões mais atuais são preocupações quase exclusivas dos consultores e dos próprios clientes que estão se sentindo pressionados. Os grandes players têm tratado o tema S/4HANA como aquele assunto chato que poderá ser resolvido em outro momento mais adequado.
Mas a verdade incômoda é que, a qualquer instante, terá chegado a hora e simplesmente não haverá quem o faça. Curiosamente, as empresas sabem disso, apenas empurram o problema um pouco mais para a frente. Não há como encontrar ou formar, e muito menos reter, talentos qualificados e em quantidade suficiente para atender todas elas.
O Google for Startups aponta ausência de talentos com perfil sênior e prevê déficit de 530 mil profissionais de TI até 2025; a Brasscom calcula que 53 mil profissionais irão se formar entre 2021 e 2025, face a uma demanda por 800 mil novos talentos nesse período; ainda em 2022, a Gartner alertava: mais de 64% dos executivos em TI já identificavam que o processo de transformação digital das empresas esbarrava na falta de mão de obra qualificada. O turnover das empresas de TI no Brasil foi de 51% entre abril de 2022 e maio de 2023 segundo o Caged.
O especialista em SAP possui competência para codificar, mas terá que adquirir expertise em implementar, integrar e configurar plataformas de software essenciais para manter a operação. Formar esses profissionais será um excelente negócio – para os mesmos, quando suas habilidades serão recompensadas à razão de seu peso em ouro. O desafio da retenção de talentos será, então, uma missão impossível.
Uma solução parece ser a diversificação. O composed faz o cenário parecer menos pavoroso, mas não muito mais do que isso. A migração parametrizada, com o desenvolvimento de softwares complementares, pode mitigar o risco do apagão por falta de recursos humanos, mas cria um problema futuro de documentação, algo a ser fortemente evitado.
As empresas maiores estão fazendo a migração através de road maps de prazos relativamente alongados, como quatro, cinco anos. O mercado em geral está andando na corda bamba: se um número razoável de empresas decidir fazer a migração em simultâneo, a maior parte delas estará descoberta, simplesmente sem braços para fazer o trabalho indispensável.
Mesmo investindo bons volumes financeiros no corpo técnico, veremos problemas que nascem da própria demanda hipertrofiada: turnover acentuado, profissionais cobrando (e merecendo) valores estratosféricos, fidelidades fluidas nas consultorias. Deixar para agir em um mercado superaquecido quando ele atinge o ponto de ebulição é uma estratégia, para dizer o mínimo, bastante arriscada.
A SAP discute a necessidade de fazer a migração há 5 ou 6 anos, sendo mais assertiva em não estender o prazo apenas recentemente. Acreditar em mais meia década de respiro é acender uma vela ao invés de trocar a instalação elétrica, sabendo que a reforma é inadiável. Procurar mão de obra técnica especializada quando as luzes estiverem piscando só poderá ter como resultado um apagão.
É disso que precisamos falar urgentemente, até mesmo porque todos estarão falando disso muito em breve: o apagão de especialistas em fazer e manter a migração.
Ferramentas de produtividade fazem o papel de exércitos de trabalhadores. Ao invés de grupos de operários assentando tijolo sobre tijolo, utilizar blocos pré-moldados reduz a dependência de conhecimento técnico. O sistema modular permite driblar o black out de mão de obra ao mesmo tempo que cria a documentação necessária para trocar o encanamento e ainda manter o edifício em pé.
O equivalente em tecnologia é a adoção de Low Code/No Code e inteligência artificial generativa com aprendizado de máquina, ferramentas que vão acelerar o processo de desenvolvimento e reduzir a dependência específica de conhecimento técnico.
O que pode, hoje, parecer uma pauta inovadora será logo realidade: o fator crítico da migração SAP será a carência de mão de obra. Não foi outro o motivo que fez nascer a Tachyonix.
Somado a esse apagão, outro fantasma assombra as empresas que deixarão para a última hora encarar de frente a necessidade de migrar seu negócio – e não há aqui qualquer exagero ao chamar de migração SAP a empresa em si, uma vez que os dados são nada menos do que o coração, pulmão e cérebro das corporações desse tempo em que estamos vivendo e atuando.
A atuação, aliás, é o que vai separar os sobreviventes dos vitoriosos, para não gastar nosso tempo falando sobre aqueles que irão naufragar. Agir ao invés de reagir não será mais um clichê, mas a estratégia mínima necessária para fazer qualquer planejamento casar com a concretude nas ações.
Já convencidos da inevitabilidade da necessidade da migração SAP, vislumbramos que, para se tirar a efetiva vantagem desta fantástica tecnologia disponibilizada pela SAP, consultores externos com conhecimento específico e atualizado sobre o S/4HANA serão fator necessário mas não suficiente.
A imensa maioria, se não a totalidade dos recursos internos dedicados ao produto na empresa, terá que ar por reciclagem. Há relatos de empresa que alocou mais de uma centena de posições para FrontEnd e não teve sucesso em nenhuma delas.
Conversando com nossos clientes, essa questão aparece em dez entre dez das discussões. Segundo os depoimentos, aí reside o segundo enorme problema. Nem todos os bons recursos são “conversíveis” o que exige a necessidade de buscar profissionais com conhecimento específico e totalmente novo.
Muitos profissionais especializados na atual tecnologia SAP já o são há bastante tempo. Por um lado, possuem enorme valor pelo conhecimento da empresa, sua cultura e seus processos. Ainda assim, todo esse arsenal de informações e experiências está baseado em uma tecnologia que está ultraada e sendo substituída.
O cenário se complica ainda mais se levarmos em conta que, como sabemos, o fator humano é, na maioria das vezes, imprevisível. Como calcular o impacto de diferentes momentos de vida e profissionais na habilidade, capacidade e mesmo disposição em fazer transformações profundas em carreiras construídas com tanto esforço?
Reaprender, adquirir todo um novo repertório, por si só, implica em se desfazer de uma rica bagagem de aprendizados arduamente conquistados. Entre a troca de recursos e a recapacitação, contam fatores imponderáveis e imprevisíveis, tudo o que o responsável pela TI de uma empresa menos deseja ter que enfrentar.
Evidente que a troca ou a recapacitação dos recursos internos, além de nominalmente cara e complexa, faz a empresa perder todo o investimento já feito nos atuais profissionais e cria a necessidade de investir tudo novamente nos novos técnicos, sem a menor garantia de um retorno favorável.
Aí, segundo os clientes, entram as ferramentas de produtividade como a Tachyonix. Com esta solução a enorme maioria do trabalho braçal técnico é automatizada, os profissionais já inseridos na cultura e nos processos da empresa não precisam aprender tudo novamente. Justo o contrário, podem usar todo o seu conhecimento na criação de uma nova realidade operacional.
*Por Marcelo Korn e Rogério Balassiano são CEO e CTO da Tachyonix.