
Não é fácil produzir um carro inteligente. Foto: Pexels.
A Volkswagen vai alterar seu processo de desenvolvimento de novos carros, colocando a prioridade na estratégia de software.
A partir de agora, a montadora alemã vai primeiro estabelecer um cronograma para o desenvolvimento do software dos carros, para depois criar os modelos das diferentes marcas do grupo e fazer o seu lançamento.
É o contrário do que sempre foi feito na VW: criar carros e projetar seu lançamento, deixando o sistema de navegação e entretenimento por último.
A nova abordagem é parte central de uma mudança estratégica a ser implementada pelo novo CEO, Oliver Blume, e deve ser apresentada neste mês para o conselho de istração da Volkswagen, segundo revela o Handelsblatt, o maior jornal de economia da Alemanha.
Uma nova plataforma de software para os carros da montadora deveria ficar pronta até 2026, o que não vai acontecer.
Parte do plano de Blume é fazer um upgrade e empurrar as versões atuais até o final da década, ao custo de mais de € 1 bilhão, revela o Handelsblatt.
Uma amostra dos problemas da VW é o ID.Buzz, uma versão elétrica da boa e velha Kombi, hoje um carro de culto entre as novas gerações (confira a #vanlife no Instagram), hoje no mercado por nada menos que € 81 mil.
Para a revista especializada Auto, Motor und Sport, o sistema do carro é “deficiente e lento” e a usabilidade um “horror”.
A Volkswagen está atrasada quando o assunto é desenvolvimento de software frente a competidores como a Tesla, que já nasceram num mundo muito mais digitalizado.
Os problemas no desenvolvimento de software foram o principal motivo da saída de Herbert Diess, antecessor de Blume no cargo de CEO.
Diess tinha planos ousados para a VW, se colocando como meta vencer a Tesla no seu próprio jogo, criando carros elétricos mais eficientes e com melhor software e interface do que a concorrente.
Para tanto, Diess criou o Car.Software.Org (depois rebatizada como Cariad), uma software house centralizada para as marcas Volkswagen, Audi e Porsche.
A meta era chegar a ter 10 mil desenvolvedores de software na Cariad.
A coisa não decolou. A Audi e a Porsche, as marcas de luxo do grupo VW, não quiseram compartilhar seus especialistas em software com a Volkswagen, a marca voltada para o público de massa.
A iniciativa descambou para brigas políticas internas sobre áreas de responsabilidade e influência.
No começo de 2022, a Audi, a marca que realmente traz os lucros dentro do grupo como um todo, chamou auditores da McKinsey para fazerem uma análise do status do desenvolvimento de software dentro da Cariad.
O resultado foi aterrorizante, segundo revela o Handelsblatt, todos os projetos ligados à iniciativa Trinity, que tinha por meta entregar um novo software até 2026, estavam atrasados e fora dos custos previstos.
O fiasco da iniciativa Cariad e do projeto Trinity levaram à demissão de Diess.