
José Renato Hopf, presidente do South Summit Brazil. Foto: Mario Miranda Filho/Agência Foto.
Uma delegação de peso do Rio Grande do Sul esteve em São Paulo para o lançamento da nova edição do South Summit, terceira edição do evento de inovação que acontece em Porto Alegre em março de 2024.
O local escolhido foi o RS Day, um evento focado em promover investimentos no estado realizado na American Chamber of Commerce Brasil (Amcham) nesta terça-feira, 10.
Nomes de peso do meio político gaúcho estiveram presentes no encontro, como o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, e o vice-governador, Gabriel Souza.
O PIB também se apresentou, com nomes como Daniel Randon, presidente da Randoncorp, uma das maiores empresas do setor industrial gaúcho, e Nelson Sirotsky, publisher do Grupo RBS, a maior empresa de comunicação do estado.
As duas organizações estão envolvidas de perto no South Summit. Randon participa de um “conselho de honra” do evento, junto com pesos pesados como Jorge Paulo Lemann ou Camila Farani, presidente da G2 Capital.
Já a RBS é parceira de mídia do evento, um tema de destaque na cobertura do grupo, com direito a programas de rádio feitos ao vivo do local em um stand com localização privilegiada.
O lado acadêmico foi representado por Jorge Audy, superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUC-RS e do Tecnopuc, e um nome reconhecido nacionalmente quando o assunto é inovação.
Muitos dos nomes que estiveram em São Paulo na semana ada voltam a se encontrar nesta segunda-feira, 16, para mais um evento de impacto, desta vez na Catedral Metropolitana de Porto Alegre, com direito a presença do governador, Eduardo Leite (PSDB).
Governo, academia e iniciativa privada no Rio Grande do Sul estão no mesmo barco quando o assunto é o South Summit, um evento espanhol focado no ecossistema de inovação cuja vinda para Porto Alegre teve o envolvimento direto do governo do estado.
“O South Summit Brazil é feito pelo ecossistema para o ecossistema. O governador Eduardo Leite lançou um desafio que era um sonho do ecossistema brasileiro, que era fazer um ambiente para inovação e empreendedorismo”, afirma José Renato Hopf, presidente do South Summit Brazil.
(Hopf é ele mesmo um nome chave no Rio Grande do Sul, responsável pelo caso do sucesso da GetNet e nos últimos anos líder de um player de referência, a 4All).
Na última edição, o South Summit atraiu 22 mil visitantes para Porto Alegre, um aumento de 10% em relação à estreia.
Um número similar é esperado para 2024, no qual a área coberta será incrementada em 150% (o evento acontece no Cais do Porto da capital gaúcha, um lugar bonito, mas não muito bom quando chove).
Eduardo Leite, que foi pessoalmente à Madri fechar a vinda do South Summit em 2021, conseguiu ser reeleito no ano seguinte, um fato raro no Rio Grande do Sul. O governo do estado garante o financiamento para o evento até 2027.
Tudo certo, então? Quem conhece um pouco sobre a tarefa de emplacar uma feira nova, sobre o nicho de feiras focadas em startups e sobre o momento econômico do ecossistema como um todo, sabe que não é bem assim.
Começando pelas condições gerais. A terceira edição de uma feira, seja lá qual foi o tema dela, é tradicionalmente uma das mais complicadas, porque o efeito surpresa começa a diminuir e o evento precisa começar a andar pela força do seu modelo de negócios.
(Ninguém lembra, ou quer lembrar disso, mas Porto Alegre já teve uma tentativa de grande evento de tecnologia, a BITS, que fechou em 2015 depois de cinco edições, e começou a afundar mesmo na terceira).
Organizadores de eventos como o South Summit costumam evitar palavras como “feira”, preferindo usar uma linguagem um pouco mais esotérica, que às vezes mais atrapalha do que ajuda.
De qualquer forma, o evento é uma feira (algum gaiato já definiu o South Summit no Twitter como a “Expointer das Startups”), ainda que com uma configuração complexa na relação entre os diferentes públicos.
Integrantes de startups tentam ter o a capital oriundo de fundos, aceleradoras ou iniciativas de inovação de grandes empresas como a Randon. Esses agentes, por sua parte, querem conhecer startups quentes.
Aspirantes a fundadores de startups querem o a conteúdo inspirador, outros visitantes querem fazer networking num local badalado com vistas para o Guaíba, tomando um clericot no final da tarde.
Esse público precisa estar disposto a pagar, e pagar bem. Os ingressos comprados com muita antecedência (o que se chama no jargão de “early bird”) custam R$ 699 na categoria mais barata.
O South Summit está longe de ser o único evento do tipo no Brasil. O principal concorrente é o Web Summit, uma franquia do evento português mundialmente conhecido, que estreou em maio já com 21 mil visitantes (a capacidade máxima projetada) e acontece no Rio de Janeiro.
(O Rio Grande do Sul inclusive começou querendo trazer o Web Summit para Porto Alegre em 2020, mas isso é outra história).
Além do Web Summit, existe já uma miríade de eventos menores, como o Gramado Summit, que já vai para a sexta edição e atraiu 10 mil pessoas para a cidade em abril.
Tudo isso nos leva para a última pergunta. Quantos eventos focados em inovação com Summit no nome acontecendo em abril e maio o ecossistema brasileiro de inovação pode sustentar no longo prazo?
A resposta para isso depende do tamanho do mercado potencial. O Brasil tem, afinal, dezenas, senão centenas, de diferentes eventos focados no agronegócio, como qualquer espectador fiel do Globo Rural sabe (recomendo o programa).
Apesar da sinergia entre iniciativa privada e governo e da badalação na imprensa (da qual o Baguete tenta participar com moderação), o fato é que o ecossistema de startups não é o agro, obviamente não em tamanho, mas também não em solidez.
O momento é de grande incerteza. Quase todas as startups líderes do país anunciaram grandes cortes de equipe. Algumas com modelos de negócios mais duvidosos fracassaram de maneira espetacular.
Os fundos, por sua vez, estão sendo mais cautelosos com seus investimentos. Ainda não se sabe o quanto tudo isso vai influenciar no entusiasmo dos jovens nos últimos anos pelo mundo “startupeiro”.
Nesse cenário agitado, o South Summit precisa de um empurrão decidido dos seus stakeholders para conseguir emplacar para valer, e parece ser exatamente isso o que está acontecendo.