
A S&P reduziu a nota de crédito do Brasil de BBB- para BB+.
A agência de classificação de riscos Standard & Poor's (S&P) anunciou na quarta-feira, 9, que reduziu a nota de crédito do Brasil de BBB- para BB+, com perspectiva negativa, o que significa que há chance de nova revisão para baixo no futuro. Com isso, o Brasil perde o grau de investimento, conferido a países considerados bons pagadores e seguros para investir.
Segundo a agência, o perfil de crédito do Brasil enfraqueceu desde 28 de julho, quando houve revisão da perspectiva de nota do país para negativa, ainda com manutenção do grau de investimento.
A S&P também afirma que a proposta orçamentária do país para 2016, que prevê um déficit primário de R$ 30,5 bilhões em lugar do superávit de 0,7% estimado anteriormente, afetou a decisão do rebaixamento.
A nota também cita a relação do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com a a presidente Dilma Rousseff.
“Enquanto o ministro da Fazenda está trabalhando para levar adiante várias medidas para retomar a meta inicial de 0,7% de superávit, elas precisarão ser negociadas com o Congresso. Mais importante, a série de eventos que levou à proposta orçamentária sugere coesão diminuída com o gabinete da presidente Dilma Rousseff e contribui para nossa avaliação de um perfil de crédito mais fraco”, explica o comunicado.
Além da revisão da S&P da perspectiva da nota de crédito do país para negativa no fim de julho, a Fitch fez o mesmo em abril. A Moody's, por sua vez, também rebaixou o país em agosto. A agência reduziu a nota brasileira de Baa2 para Baa3, o que ainda significa grau de investimento, segundo a Agência Brasil.
A revista The Economist afirmou que o rebaixamento da nota do Brasil veio tarde. Para a publicação, muitos se desesperaram quando o governo apresentou o orçamento para 2016, e os mais preocupados apontaram que o rebaixamento era apenas uma questão de tempo, mas que poucos esperavam que os analistas de risco reagissem tão rapidamente.
Segundo a revista, o país deve sofrer consequências econômicas por conta do corte da nota, o que “não deve ajudar o Brasil a se livrar da recessão em que entrou no último trimestre”.
Já a Bloomberg diz que o rebaixamento coloca pressão na equipe de Levy para conseguir aprovar medidas que possam melhorar a situação fiscal do país, cortando gastos ou aumentando impostos.
“Rousseff não foi capaz de conseguir apoio para suas iniciativas em meio a uma investigação de corrupção que teria acontecido na petroleira de cujo conselho era presidente, levando sua popularidade a um recorde de baixa e a pedidos de impeachment. O embate político não poderia acontecer num momento pior”, completa a publicação.
Para a Bloomberg, o rebaixamento deve levar o real a estender as perdas que já fizeram da moeda a de pior desempenho entre os países emergentes este ano.
Em entrevista na manhã desta quinta-feira, 10, o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Nelson Barbosa, afirmou que o governo continua no esforço de melhorar o crescimento da economia e a situação fiscal do Brasil.
"Hoje houve uma mudança da avaliação de risco por parte de uma agência, mas isso não muda a nossa trajetória de recuperação da economia brasileira, de construção de um reequilíbrio fiscal e, mais importante, o governo brasileiro continua a honrar todos os seus compromissos, todos os seus contratos", completou.
Segundo ele, "isso é apenas a avaliação de uma agência de risco, que é importante, nós trabalhamos para ter sempre a melhor avaliação por parte do mercado [...], mas mais importante do que isso, nós estamos construindo as condições para o reequilíbrio fiscal e essa construção envolve várias frentes e medidas de controle de gasto".
No entanto, quando o Brasil conseguiu o grau de investimento, em 2008, a visão do governo era outra. Na época, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a classificação concedida pela Standard & Poors significava que o Brasil era visto como um país sério e mundialmente respeitado.
"Se a gente for traduzir isso para uma linguagem que os brasileiros entendam, o Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas finanças com seriedade e com isso amos a ser merecedores da confiança internacional", afirmou Lula, em 2008.