
X está atravessando uma crise no Brasil. Foto: Depositphotos.
Um time pequeno e relativamente novato na empresa vai ter que segurar o rojão no X, a rede social antes conhecida como Twitter.
Em meio à briga pública de Elon Musk, dono do X, com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, a reportagem do Baguete resolveu conferir quem trabalha no escritório brasileiro da empresa.
Enquanto Musk publica tweets incendiários e Moraes ordena investigações contra o bilionário, são esses profissionais que em tese lidar com as consequências legais no Brasil, além de manter canais de comunicação abertos com o governo brasileiro.
O quadro não parece nada bom. Para começar a história, o X não tem uma liderança de peso no país. Fiamma Zarife deixou o cargo de country manager no Brasil em fevereiro de 2023, alguns meses depois de Musk comprar a empresa (ela é hoje general manager do Airbnb na América Latina e deve estar respirando aliviada).
Desde então, não foi anunciado outro nome para a função. Na verdade, não foi anunciado nada, porque, ao contrário de todas as outras empresas do seu porte, o X não tem uma assessoria de imprensa no Brasil.
(A situação não é fora do normal. Musk não dá muita bola para o relacionamento com a mídia. Durante um período, e-mails enviados por jornalistas recebiam como resposta automática um emoji de fezes).
Pesquisando no Twitter, é possível encontrar cerca de 50 funcionários no X alocados no Brasil, um terço dos 150 que trabalhavam no país antes de Musk assumir o negócio e fazer demissões em massa.
A maioria deles atua em áreas comerciais e de conteúdo. Aqueles que poderiam estar na linha de frente da crise atual tem muito pouco tempo de casa.
Diego de Lima Gualda, diretor jurídico, foi contratado em 2021. Segundo seu perfil no LinkedIn, ele responde por América Latina, Europa e Oriente Médio, Canadá e Ásia (tudo que não é Estados Unidos, basicamente).
Embora já tenha sido sócio do Machado Meyer Advogados, uma das maiores bancas de advogados do país, além de ter chefiado a área legal da 99, Gualda é um profissional ainda no começo da carreira, iniciada em 2005 no Yahoo!.
Não parece o perfil de alguém que possa ter muita interlocução com o STF, um local que abre as portas apenas para um grupo seleto de grandes bancas de advogados.
(Além de Gualda, a reportagem também achou duas advogadas no time jurídico do X, e uma estudante de direito do Mackenzie fazendo o seu segundo estágio profissional, que certamente vai dominar rodas de conversa nas próximas semanas).
A gerente sênior de políticas públicas no X é Gabriela Salomão, uma profissional que começou a carreira em 2010.
Ela foi gerente por quatro anos na Distrito, uma empresa brasileira de relações governamentais, ou lobby, adquirida pela gigante Edelmann em 2022. Salomão foi contratada em outubro de 2023.
Nathália Mendes, executiva de contas do X para governo, baseada em Brasília, tem só dois meses na empresa.
Uma das profissionais com mais anos de casa que o Baguete encontrou foi a diretora financeira Danielle Yumiya, há seis anos no LinkedIn.
O mais provável é que o time brasileiro do X seja espectador da briga entre Musk e Moraes, trabalhando no máximo para conter os danos em alguma medida.
Pode ser que os danos sejam inclusive grandes demais para qualquer tentativa de contenção, com o time brasileiro do X sendo pouco mais do que um Band Aid numa fratura exposta.
Isso porque, segundo revela o UOL, interlocutores do ministro de Moraes já procuraram a presidência da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) a respeito dos procedimentos necessários para tirar o X do ar no Brasil.
Ainda, a reportagem do UOL afirmou que membros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) haviam deixado as operadoras de telefonia de sobreaviso para o caso de ter de cumprir alguma ordem judicial para retirar o X do ar.
Musk inclusive parece estar se preparando para esse cenário. Ele já comentou em tweets que a disputa com Moraes era uma questão de princípios, e que estava disposto a fechar a empresa no Brasil.
O dono do X, inclusive, já fixou em sua página um post que ensina como fazer uso de uma VPN, um recurso que permitiria aos brasileiros saltar um eventual bloqueio.
Para agravar o quadro, os funcionários brasileiros do X podem temer repercussões judiciais na própria pele.
Em um tweet nesta segunda, 8, Musk disse que funcionários da rede social no Brasil foram informados de que seriam presos.
“Precisamos levar nossos funcionários no Brasil para um local seguro ou que não estejam em posição de responsabilidade, então faremos um dump [extração] completo de dados”, disse Musk.
Funcionários de uma multinacional irem presos não seria uma situação inédita no Brasil.
Em 2016, Diego Dzodan, vice-presidente do Facebook Brasil, foi preso ao desembarcar no aeroporto de Guarulhos, devido ao descumprimento de uma ordem judicial de abertura de mensagens do WhatsApp.
O pedido de prisão preventiva foi feito por um juiz de Lagarto, uma cidade de 100 mil habitantes no interior do Sergipe.