
Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Herrmann Telles. Foto: Divulgaçao.
Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, donos do fundo 3G, divulgaram uma nota neste domingo, 22, afirmando que não sabiam nada sobre os problemas contábeis na Americanas, um escândalo que levou a varejista para a recuperação judicial.
“Jamais tivemos conhecimento e nunca itiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia. Nossa atuação sempre foi pautada, ao longo de décadas, por rigor ético e legal”, diz um trecho da nota assinada pelo trio, a primeira manifestação oficial sobre o assunto.
As chamadas “inconsistências contábeis” no balanço somam R$ 20 bilhões, levando a dívida da varejista a um total de R$ 43 bilhões. Na semana ada, a Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial.
A pergunta no mercado é: como isso pode acontecer? O 3G, dono de 30% do capital da empresa, diz que não sabia de nada. A diretoria, liderada pelo mesmo presidente por 20 anos, não notou nada (ou não fez nada).
A PwC, uma das maiores empresas de auditoria contábil do mundo, aprovou o último balanço da Americanas sem ressalvas há apenas três meses.
E, no meio disso tudo, Sérgio Rial, contratado para a posição de CEO, descobriu e expôs o escândalo nove dias depois de assumir, pedindo logo depois o afastamento do cargo, junto com o CFO, outro recém contratado.
(No lugar de Rial, assumiu João Guerra, um profissional de carreira com grande background em tecnologia, provando que no final a bomba sempre cai para o cara de TI. A nova CFO é Camille Faria, que liderou a recuperação judicial da Oi, outra bomba).
O fato é que a nota da 3G não esclarece em nada esses questionamentos.
Sobre os prejuízos de credores e investidores, a nota diz que o trio lamenta as perdas sofridas e que eles, como acionistas, também sofreram prejuízos.
Em outro trecho, dizem que vão trabalhar para recuperar a empresa com a “maior brevidade possível”, o que, nos melhor das hipóteses, é um belo exercício de wishful thinking. A recuperação judicial da Oi demorou seis anos.
SICUPIRA ESTAVA NA OPERAÇÃO
Um aspecto chamativo que a nota também não aborda é o envolvimento mais direto na operação de um dos sócios da 3G, Carlos Alberto Sicupira.
Segundo apurou o Neofeed, Sicupira apontou nomes da sua confiança para liderar o negócio.
De acordo com fontes ouvidas pelo site, Miguel Gutierrez, por exemplo, CEO da varejista por 20 anos, não fazia nada sem consultar Sicupira, conhecido como Beto.
“Eles não faziam nada sem o OK do Beto”, diz uma pessoa que trabalhou com o ex-CEO da Americanas. “Presenciei inúmeras situações que, antes de tomar uma decisão, eles consultavam o Beto”.
Confira a íntegra da nota:
No dia 11 de janeiro de 2023, por meio de “fato relevante”, a Americanas S.A. tornou pública a existência de significativas inconsistências em sua contabilidade. Desde então, sempre com transparência e imediatismo, vários esforços vêm sendo feitos para o correto tratamento dos desafios que hoje se colocam à empresa. Usamos dessa mesma clareza para esclarecer de modo categórico e a bem da verdade que:
1) Jamais tivemos conhecimento e nunca itiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia. Nossa atuação sempre foi pautada, ao longo de décadas, por rigor ético e legal. Isso foi determinante para a posição que alcançamos em toda uma vida dedicada ao empreendedorismo, gerando empregos, construindo negócios e contribuindo para o desenvolvimento do país.
2) A Americanas é uma empresa centenária e nos últimos 20 anos foi istrada por executivos considerados qualificados e de reputação ilibada.
3) Contávamos com uma das maiores e mais conceituadas empresas de auditoria independente do mundo, a PwC. Ela, por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade.
4) Portanto, assim como todos os demais acionistas, credores, clientes e empregados da companhia, acreditávamos firmemente que tudo estava absolutamente correto.
5) O comitê independente da companhia terá todas as condições de apurar os fatos que redundaram nas inconsistências contábeis, bem como de avaliar a eventual quebra de simetria no diálogo entre os auditores e as instituições financeiras.
6) Manifestamos mais uma vez nosso compromisso de integral transparência e de total colaboração em tudo que estiver ao nosso alcance para esclarecer todos os fatos e suas circunstâncias.
7) Lamentamos profundamente as perdas sofridas pelos investidores e credores, lembrando que, como acionistas, fomos alcançados por prejuízos.
8) Reafirmamos o nosso empenho em trabalhar pela recuperação da empresa, com a maior brevidade possível, focados em garantir um futuro promissor para a empresa, seus milhares de empregados, parceiros e investidores e em chegar a um bom entendimento com os credores.