
Conta da água deu um susto no Amapá. Foto: Reprodução/Internet
A Concessionária de Saneamento do Amapá (CSA) mandou contas com valores milionários para seus clientes pelo consumo do mês de março.
Em um caso relatado pelo G1, uma cliente recebeu um fatura de quase R$ 8 milhões para uma cliente, ou R$ 7.639.534,12, para ser mais exatos.
Ao G1, a mulher, que preferiu não se identificar, disse que primeiro levou um susto com o valor da conta da luz (caro, mas verdadeira), só para depois um susto maior ainda com a conta da água.
“A de energia veio já caro, depois eu peguei a da água, chega eu me espantei quando eu olhei! Eu fiquei logo brava. Falei para minha mãe: Vamos lá resolver esse negócio”, disse a cliente ao site de notícias.
Outras imagens de contas com valores absurdos estão circulando pelas redes sociais, todas com valores de R$ 7,63 milhões e uns quebrados (sempre cifras diferentes).
Em nota, a CSA afirma que tem conhecimento do problema e já iniciou o procedimento de nova impressão e fará a entrega das faturas corrigidas. A causa da situação inusitada é uma “falha pontual”.
É aí que as coisas ficam chamativas para um interessado no tema TI, porque muito provavelmente essa falha deve ter sido no sistema de geração de contas da CSA, o que se conhece no jargão como “billing”.
Fechar uma conta de uma prestadora de serviços de fornecimento água, luz ou gás, o que se conhece como “utilities”, é uma tarefa ingrata, uma vez que que os valores variam de acordo com o consumo, e, em alguns casos, com o momento do consumo e o tipo de consumidor.
No caso da CSA, o problema parece ter sido que o sistema multiplicou em umas 100 mil vezes uma conta normal, digamos de R$ 70.
O motivo pode ser uma falha humana, mas não deixa de ser uma falha também da solução de billing que ela não disponha de algum mecanismo de monitoramento para evitar que uma conta tão fora da curva seja impressa e enviada para o cliente final.
E aí vem a seguinte pergunta. Qual é o sistema de billing usado pela CSA?
A antiga Companhia de Água e Esgoto do Amapá (Caesa) foi privatizada no final de 2021, quando a Equatorial pagou quase R$ 1 bilhão pela concessão pelos próximos 35 anos, criando assim a CSA.
A Equatorial é uma das maiores empresas de utilities do país, atuando principalmente no setor elétrico, no qual opera empresas no Alagoas, Maranhão, Pará, Piauí, Rio Grande do Sul, Goiás e também no Amapá.
Como 80% das grandes empresas de utilities do setor elétrico, a Equatorial é cliente SAP (a cifra é da própria multinacional alemã).
Isso não quer dizer, porém, que a CSA use billing da SAP para fazer suas contas milionárias de água.
De maneira geral, as utilities de água e saneamento estão atrás das suas irmãs na área elétrica quando o assunto é adoção de software de mercado como a SAP, o que tem que ver com o fato que o setor está atrás no quesito privatização.
Além do mais, transcorreu relativamente pouco tempo desde a compra da Caesa, o que torna ainda mais improvável que o sistema legado da antiga estatal tenha sido substituído.
A reportagem do Baguete, que vive de fazer tais investigações emocionantes, não conseguiu achar nada sobre qual é o ERP atualmente em uso na CSA.
Caso algum leitor atento no Amapá queira dar uma dica, o formulário de contato do site é sempre uma porta aberta.