
José Antonio Leal durante reunião com o governador Eduardo Leite. Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini
José Antonio Leal, ex-gerente geral de TI da Gerdau no Brasil, foi nomeado como novo presidente da Procergs, estatal gaúcha de processamento de dados, nesta quarta-feira, 22.
Leal é um executivo experiente no mercado privado: começou a carreira ainda em 1986, como desenvolvedor de aplicações da Gerdau.
Depois, ou por uma série de posições dentro da TI da Gerdau, sendo o período mais longo como gerente de e e desenvolvimento, entre 1988 e 2004.
Depois disso, foi ainda gerente de planejamento e controle de TI e gerente de TI regional para América Latina.
Leal saiu da Gerdau em 2015, assumindo por um período depois um papel consultivo no projeto de implementação de um sistema de gestão da SAP na rede de farmácias São João, uma das maiores em atuação no Brasil.
“Queremos um governo 100% digital. É uma meta ambiciosa, mas factível. A Procergs é fundamental nesse contexto, principalmente por causa do qualificado e talentoso corpo técnico”, afirmou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), depois da reunião na qual foi anunciado o nome de Leal.
Participaram do encontro ainda o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, o secretário de Governança e Gestão Estratégica, Claudio Gastal, e o secretário extraordinário da Chefia de Gabinete do Governador, Paulo Morales.
Com a nomeação de Leal se encerra o período de transição na Procergs, que no governo Leite foi mais longo do que o normal devido à dificuldade de encontrar um novo presidente que atendesse às exigências da Lei de Estatais (um problema que, diga-se de agem, não acontece só na Procergs).
Há exatamente um mês, a Procergs já havia anunciado a nova diretoria, ainda sem o presidente.
Josué de Souza Barbosa, ex-secretário de Planejamento, Governança e Gestão do Rio Grande do Sul, é o novo diretor de inovação e relacionamento com clientes.
Além dele, a diretoria é composta por Paulo César Verardi, um executivo com agem por empresas privadas como Vonpar e Ribeiro Jung que assumiu como diretor istrativo e financeiro e a diretora técnica Karen Maria Gross Lopes, uma funcionária de carreira da Procergs.
Durante a posse dos novos diretores, Gastal garantiu a continuidade da Procergs como empresa pública, em um momento em que o governo gaúcho prepara privatizações.
“A Procergs precisa se reinventar e se redefinir como entidade para tomar uma posição de protagonismo na estratégia de governo. Não tem como fazer um governo digital sem o instrumento de execução”, destacou Gastal.
Muitos estados brasileiros tem empresas como a Procergs, criadas nos anos 1970 e 1980 para lidar com a crescente informatização do governo.
A necessidade de manter tais estruturas está sendo revista, em um momento em que muitos estados precisam fazer cortes de gastos, o desenvolvimento do mercado privado é outro, e as necessidades de entrega do governo muito maiores.
O governo do Mato Grosso, por exemplo, vai fechar as portas da estatal estadual de tecnologia, a Empresa Mato-grossense de Tecnologia da Informação (MTI).
No seu discurso de saída, o presidente Antônio Ramos fez uma avaliação realista das dificuldades de entregar os resultados esperados com uma companhia que enfrenta as limitações vistas na Procergs.
“Não é fácil transformar uma empresa pública que tem funcionários celetistas. Como que se contrata competências novas, como cientistas de dados ou especialistas em IA? Por concurso, em início de carreira? Baseado em um plano de cargos e salários que não tem mais a ver com o novo cenário tecnológico? Temos desafios como fazer inovação em uma empresa com média de idade de 50 anos e funções extintas”, disse Ramos.
A missão de istrar a companhia será de Leal, um executivo com um perfil diferente do presidente típico da Procergs, que na maioria das vezes é alguém que fez toda carreira ou a maior parte da carreira no setor público.
Ramos, por exemplo, antes de assumir a presidência, em 2015, ou por cargos de diretoria e vice presidência da Procergs em duas istrações diferentes.
O presidente anterior a Ramos, Carlson Aquistae, havia sido diretor-istrativo da Procempa, a estatal de processamento de dados de Porto Alegre, de 1994 a 2002.
O único presidente da Procergs com uma biografia similar a de Leal do qual a reportagem do Baguete pode lembrar é Ronei Ferrigolo, durante o governo de Yeda Crusius, outra política tucana que liderou o Rio Grande do Sul entre 2007 e 2011.
Presidente entre 2007 e 2008, Ferrigolo sofreu críticas por supostas "intenções privatistas", como fechar o provedor de Internet da Procergs, o Via-RS (o provedor definhou até 2018, quando foi mesmo fechado).
Ferrigolo também liderou uma grande licitação de fábrica de software para terceirizar desenvolvimento de software, um procedimento que foi mantido por todos os presidentes da estatal desde então.
Em meio ao conturbado governo Yeda Crusius, Ferrigolo sofreu bastante desgaste por suas ligações com o meio empresarial de TI, uma parte dele vindo desde dentro da Procergs, em um caso clássico de “fogo amigo”.
O gestor pediu demissão em outubro de 2008, no mesmo dia em que anunciou o pagamento da participação nos resultados dos funcionários, seguindo depois disso uma bem sucedida carreira no setor privado.
Ferrigolo hoje é diretor comercial para contas estratégicas no setor financeiro da Oracle.
Muita água ou debaixo da ponte desde então. O quanto é possível mexer na Procergs hoje é algo que José Antonio Leal deve logo descobrir.