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Julia Badin (Foto: Arquivo pessoal)
Em São Jerônimo, uma pequena cidade de 24 mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul, Julia Badin corre contra o tempo. Ela precisa arrecadar R$ 70 mil até o dia 1 de julho, ou adiar o sonho de ir para os Estados Unidos para estudar TI.
Badin foi aprovada em três universidades norte-americanas com bolsas de estudos avaliadas em mais de R$ 800 mil. As bolsas, no entanto, não cobrem todos os custos de vida necessários.
A jovem de 19 anos quer estudar Ciência da Computação, Empreendedorismo e Inovação na University of South Florida (USF), com o auxílio de uma bolsa de estudos que cobre 70% da anuidade da universidade.
Seria o ponto final (ou o começo) de um plano que recebeu dedicação total nos últimos quatro anos, nos quais Badin estudou sozinha a burocracia e o processo seletivo das instituições de ensino superior de diversas universidades americanas.
Badin é egressa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense de Charqueadas, o IFSul, onde se graduou com láurea acadêmica como técnica em informática e engajou em diversos projetos acadêmicos com menção honrosa, como a Olimpíada Brasileira de Matemática de Escolas Públicas (OBMEP) e a Olimpíada Brasileira de Informática (OBI).
Segundo a jovem, seu sonho de estudar no exterior foi aguçado pela franquia de filmes da Disney High School Musical quando criança, que a levou a se encantar pelo espírito acadêmico e comunitário retratado nos musicais direcionados ao público infanto-juvenil.
Apesar disso, ela não imaginava que a concretização dessa fantasia estava mais próxima de sua realidade do que o esperado.
“Acho que todo mundo quando era criança e adolescente assistia e pensava: Poxa, podia ser eu vivendo isso, sabe? Só que era uma coisa muito fora da minha realidade, eu não pensava que seria possível. E aí, em 2019, eu conheci um perfil no Instagram, que falava sobre intercâmbio e como fazer graduação no exterior, e eu pensei que, talvez, aquele sonho que estava apagado dentro de mim fosse possível”, rememora.
Ainda em 2020, Badin começou a perseguir autonomia financeira para realizar seu sonho, criando uma doceria para levantar recursos e arcar com os custos das aplicações no exterior por conta própria, sem a ajuda dos pais.
Apenas com essa fonte de renda extra, a estudante juntou cerca de R$ 40 mil vendendo alfajores, tortas e brownies nos bairros de São Jerônimo.
“Atualmente, além dos doces, eu estou vendendo cristais e fazendo bijuterias. É uma renda extra. E tem um pouquinho que minha mãe consegue me ajudar, mas não é tanta coisa. O principal, infelizmente, está sendo a vaquinha porque é muito dinheiro. Não tem como conseguir tudo sozinha em tão pouco tempo”, relata.
Ao todo, a estudante filtrou 100 universidades internacionais até chegar às 20 finais às quais decidiu se candidatar.
A partir disso, foi preciso pagar taxas de envio de documentos, as quais chegam a variar entre US$ 30 a US$ 80, além das tarifas cobradas para a realização das provas exigidas pelas instituiçōes de ensino, como o Scholastic Aptitude Test, conhecido popularmente como SAT, a versão estadunidense do Enem, e o DET, prova de proficiência em inglês do Duolingo.
De acordo com a jovem, apenas esse processo lhe custou cerca de R$ 7 mil, sem a promessa garantida de que, de fato, seria aceita nas universidades, e sem ter uma segunda opção no Brasil.
“Lá as oportunidades abrem portas que, se fosse uma faculdade aqui do Brasil, talvez fosse mais difícil de alcançar. Eu foquei só no exterior. Pensei, se for pra ser, vai ser”, analisa Badin.
Depois de anos estudando a parte burocrática do processo, no ano ado, a estudante prestou o SAT duas vezes, até atingir a nota que considerava ideal para conseguir a bolsa de estudos que desejava.
Em sua segunda tentativa, Badin teve uma pontuação de 1.450 de 2.400, uma nota que apenas 2% dos candidatos alcançaram.
Conforme conta, a jovem estudou para a prova enquanto conciliava sua rotina de trabalho e de aulas presenciais, prestes a se formar no ensino médio, dedicando cinco horas de seu dia para refazer as provas de anos anteriores.
“Eu acho que a parte mais difícil no meu caso foi o SAT. O meu inglês não era muito bom e ei uns cinco meses estudando desde o começo de 2022 até maio, quando eu fiz a prova pela primeira vez. Eu não estava acostumada, então, eu tive que estudar do zero. O modo de fazer americano é diferente. Então eu tive que praticamente reaprender tudo porque eram quase duzentas questões em três horas”, relata.
Outro quesito que alavancou a entrada da estudante na University of South Florida foi seu GPA, o Grade Point Average, que indica o aproveitamento do aluno ao longo de sua vida acadêmica através das notas que obteve.
Em uma escala de até quatro pontos, Badin conquistou um GPA de 3,83, equivalente a um coeficiente de rendimento de 8,9 no Brasil.
Agora, a jovem busca levantar R$ 70 mil até o início de julho para cobrir seus custos de moradia, no dormitório da universidade, e alimentação, bem como a anuidade da universidade. Esta última é avaliada em US$ 6,4 mil com as deduções da bolsa de estudos.
Até o momento desta publicação, a arrecadação levantou apenas R$ 3.738,30 para que a estudante possa obter seu visto e embarcar oficialmente para a Flórida em agosto.
Caso o valor não seja alcançado, a jovem pretende cursar seu primeiro ano de faculdade on-line, como forma de cortar os gastos do dia a dia, pagando apenas pela anuidade enquanto trabalha para arrecadar mais dinheiro e, de fato, concretizar a meta de se mudar para a Flórida em 2024.
Já os planos da estudante para quando a mudança acontecer, envolvem continuar trabalhando duro durante os quatro anos da graduação.
“Eles oferecem bastante emprego para os alunos, principalmente internacionais. Mas, por causa do visto de estudante, você não pode trabalhar. Mesmo assim, eles permitem até 20 horas de trabalho dentro do campus, seja na lavanderia e cafeteria, dando preferência para os alunos internacionais. O bom é que antes mesmo de ir você já consegue conhecer as vagas e ar pelo processo de entrevista”, explica.
Ao fim do curso, a jovem pretende se aplicar para uma extensão de mais dois anos de seu visto de estudante, modalidade oferecida pelos serviços de imigração estadunidense especificamente para diplomas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês).