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Maria Rita e Elis Regina fizeram dueto no anúncio. Foto: Divulgação
A Volkswagen usou tecnologia de inteligência artificial para criar um comercial com a cantora Elis Regina, falecida em 1982, e a sua filha, a também cantora Maria Rita.
A técnica, conhecida também como “deep fake”, aplica IA para criar vídeos, áudios ou imagens de forma realista, o que sem dúvida é o caso do anúncio da VW.
No comercial, criado pela agência AlmapBBDO, Maria Rita aparece dirigindo um IDBuzz, a versão elétrica e moderna da Kombi, um sucesso de vendas da VW.
Elis Regina aparece dirigindo uma Kombi do modelo clássico, e mãe e filha dirigem em paralelo enquanto cantam juntas o clássico “Como nossos pais”, em meio a imagens reais de outros sucessos de venda da Volks no Brasil como o Fusca, o Gol ou a Brasília.
O anúncio serve para divulgar a chegada do IDBuzz, uma SUV totalmente elétrica apontada como uma espécie de sucessora da Kombi, numa referência ao refrão “o novo sempre vem”, da música composta por Belchior em 1976.
(Ainda que uma oferta limitada de 70 unidades com um preço de R$ 283 mil até R$ 335 mil dificilmente devemos ver “IDBuzz escolares”, ou outras aplicações mais mundanas da velha Kombi, um sucesso de vendas nos anos 70 e 80 cuja fabricação só foi encerrada no país em 2013).
A campanha mais ampla foca nos 70 anos da Volkswagen no Brasil, remetendo à história de Maria Rita e Elis Regina com o slogan final “Volkswagen, sucesso que a de geração em geração”.
“A junção de ferramentas com a ajuda de uma tecnologia de redes neurais artificiais possibilitou criar uma mistura perfeita entre o rosto real da dublê e a imagem recriada de Elis; a ação usa a voz original da cantora. Esse é um presente que a Volkswagen oferece em sua celebração de 70 anos: um dos maiores encontros intergeracionais da música e dos automóveis”, afirma Livia Kinoshita, gerente executiva de Marketing Comunicação da Volkswagen do Brasil e SAM.
Além de estreia na TV aberta, a estratégia de comunicação conta com materiais Out of Home, mídias digitais e ativações no The Town, festival de música que conta com o patrocínio da Volkswagen do Brasil e será realizado em setembro de 2023, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo (SP), e que contará com Maria Rita entre as atrações.
COMO FOI FEITO
O filme contou com tecnologia de inteligência artificial treinada especificamente para reconhecimento facial de Elis Regina, diferentemente do que são feitos em projetos de IA que utilizam tecnologia pré-treinadas a partir de dados genéricos.
Agência e produtora se uniram a uma empresa de pós-produção americana especializada e com repertório de projetos realizados para a indústria cinematográfica de Hollywood.
Durante dias, a IA recebeu extensivos treinamentos com diferentes tecnologias, combinando a atuação da dublê com os movimentos e imagens de Elis, chegando ao inédito e surpreendente resultado do rosto da cantora.
UM HIT DA PROPAGANDA
A campanha da Volkswagen está muito bem executada e não deixa de ser emocionante, principalmente tendo em conta que Maria Rita, hoje uma artista de destaque por direito próprio, tinha apenas quatro anos quando a mãe faleceu.
Por outro lado, é interessante notar como uma reflexão melancólica sobre a agem do tempo como “Como nossos pais” virou uma espécie de hino publicitário alternativo no Brasil.
O leitor talvez lembre da primeira grande campanha do Nubank em 2018, quando o banco digital usou uma gravação ao vivo de Elis cantando a mesma música.
A ação foi caprichada, recauchutando para a era digital uma gravação poderosa de Elis para o Fantástico, em 1976, com uma discreta no final: #onovosemprevem.
Ao mesmo tempo, painéis publicitários com versos da música como “Como Nossos Pais?”, “É você que ama o ado”, “Há perigo na esquina” e “O novo sempre vem” foram espalhados por São Paulo.
Assim como a Volks, a Nubank focou no refrão sobre no novo, associando ele com a conta digital que estava prestes a ser lançada pela fintech naquele momento.
O interessante é que a letra de Belchior é muito mais ambígua, um comentário desiludido sobre o efeito da agem do tempo em relação às esperanças e aos sonhos da juventude.
A inevitabilidade da vinda do futuro aparece no contexto da música como uma esperança vaga e um consolo quando tudo mais deu errado. Não como uma crença em alguma espécie de triunfo inevitável. É nessa tensão que reside o seu poder.