
Dinheiro vai voltar a fluir para o governo. Foto: Depositphotos.
Empresas de tecnologias estão entre as maiores beneficiadas da política de desoneração de folha de pagamento, e devem se ver frente a um belo prejuízo quando ela acabar, o que já tem data marcada para acontecer.
A lista completa dos 28 mil beneficiados foi divulgada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com os valores que as empresas deixaram de pagar entre janeiro a agosto, no total R$ 12,3 bilhões.
O topo da lista é ocupado por gigantes com dezenas de milhares de funcionários, como a BRF em primeiro lugar, com R$ 237 milhões não pagos como consequência da desoneração.
O topo da lista tem também call centers como a AEC e Atento, com valores na casa dos R$ 95 milhões, e a gigante de consultoria Accenture, com R$ 109 milhões (a lista completa foi publicada pelo site Poder360 e está disponível aqui).
Olhando um pouco mais para baixo, porém, vem o bloco das empresas de tecnologia, que dominam o ranking entre a 11a e a 20a posição e a aparecem com frequência depois.
Assim, a Meli Developers, uma empresa de desenvolvimento de software pertencente ao Mercado Livre, foi beneficiada com uma isenção fiscal de R$ 84,6 milhões, ficando em 11o lugar.
Logo atrás vem a CI&T, uma das maiores empresas de desenvolvimento de software do país, com R$ 72 milhões; a F1RST, empresa de tecnologia do Santander, com R$ 66,6 milhões; a Kyndryl, spin off de infra de TI da IBM, com R$ 57,3 milhões; a Stefanini, com R$ 56,1 milhões e a Nu Brasil Tecnologia, empresa de tecnologia do Nubank, com R$ 50,6 milhões.
Mais adiante, aparecem outros 14 nomes conhecidos: TCS (R$ 49 milhões), NTT Data (R$ 49 milhões), GFT Brasil (R$ 37 milhões), SAP (R$ 35 milhões), Capgemini (R$ 34 milhões), Minsait (R$ 30 milhões), Com.UOL (R$ 30 milhões), Act (R$ 27 milhões), Thoughtworks (R$ 26 milhões), Zup I.T. (R$ 26 milhões), RD (R$ 25 milhões), Concentrix (R$ 25 milhões), Luizalabs (R$ 25 milhões), o (R$ 24 milhões).
Assim, só essas 20 empresas colocaram no bolso R$ 897 milhões entre janeiro a agosto, o que, diga-se de agem, não tem nada de errado e está de acordo com a legislação brasileira, pelo menos nesse momento.
O problema, pelo menos para as empresas de tecnologia, é que essa política está com os dias contados e o dinheiro vai voltar a fluir em breve para os cofres do governo.
A desoneração da folha de pagamentos foi instituída em 2011 no governo Dilma Rousseff (PT) para setores intensivos em mão de obra.
Ela permitia a troca da contribuição previdenciária patronal de 20% sobre a folha de salários por uma taxação de 1% a 4,5% sobre a receita bruta (o setor de TI pagava 4,5%).
Responsáveis pelo Ministério da Fazenda ao longo dos últimos anos, cobrindo o espectro político de Paulo Guedes a Fernando Haddad, sempre apontaram que a renúncia fiscal bilionária gerada pela desoneração não tinha benefícios comprovados.
As empresas de TI e outros setores beneficiados, que pelo menos sabiam o quanto estavam deixando de pagar, lutaram com unhas e dentes pela manutenção da política, falando que o seu fim causaria a eliminação de milhares de postos de trabalho.
No final das contas, o Ministério da Fazenda venceu. Em 2025, a alíquota volta para 5% sobre a folha, ando para 10%, 15% e 20% nos anos seguintes.